quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Nunca mais vou esquecer aqueles dois

Quando partimos para fazer O Caminho acompanharam-nos no último comboio um casal de brasileiros. Chegados a Saint-Jean-Pied-du-Port colocávamos os últimos alforges nas bicicletas quando eles vieram falar connosco, muito admirados porque éramos 4 e levávamos tão pouca bagagem. Quando os olhamos nem queríamos acreditar, para além do excesso de peso que tinham cada um deles transportava mais coisas que nós os quatro juntos, tinham alforges à frente, atrás,  no quadro da bicicleta, mochila e tudo o mais o que possam imaginar. Eles acharam que nós trazíamos pouquíssimas coisas, nós achamos que eles traziam demasiadas coisas, mas ela logo tratou de nos dizer que tinham tirado 1 mês para fazer O Caminho, que caminhar estava fora de questão e por isso escolheram a bicicleta, que vinha para pedalar mas também para se divertir, que trazia vestidinhos de noite, sandálias, secador de cabelo, que queria andar sempre bonita (com sotaque brasileiro foi melhor ainda ouvi-la). Nós desejamos um Bom Caminho e partimos a rir e a pensar quanto tempo demorariam eles a fazer O Caminho. À noite voltamos a cruzar-nos com eles, nós de chinelos, calções que nos dariam para todas as noites durante todo O Caminho e um polar, único na bagagem também, ela de saltos, vestido decotado, acessórios, maquilhada e linda. 

Eles partiram na manhã seguinte para O Caminho, nós ficamos por lá ainda 1 dia, queríamos conhecer melhor aquela zona dos Pirenéus. No dia seguinte fomos pedalar por lá e entre os outros locais fomos a Roscevalles pela estrada, passaríamos por lá no dia seguinte mas vindos do Caminho, voltamos a Saint-Jean e começamos o nosso caminho, conforme planeado, 1 dia depois. Chegamos o Roscevalles por volta das 2:00 H, os trilhos para subir os Pirenéus não eram nada fáceis mas chegados lá já conhecíamos o albergue, a catedral, o restaurante, só queríamos um carimbo na caderneta e comer qualquer coisa para partir até Zubiri, seria lá o destino do dia 1. Quando fomos carimbar a caderneta encontramos o tal casal brasileiro a separar roupas, ela quando nos viu lançou um sonoro "tou despachando tudo pr'a casa", depois de falarmos um pouco ficamos a saber que tinham vindo pela estrada e mesmo assim demoram 2 dias para lá chegar. Nós desejamos novamente um Bom Caminho e partimos, nunca mais os vimos mas pensamos neles várias vezes durante O nosso Caminho, não sei se chegaram a Santiago de Compostela, não sei o que O Caminho lhes mostrou, não sei quanto tempo andaram por aquele chão de que tanto gosto, mas tenho a certeza de que aprenderam a viver somente com o que é essencial. 

O meu local de trabalho tem iluminação a mais

Nos últimos dois dias arrumei os papéis num lote, desliguei o computador, verifiquei se estava tudo fechado, peguei na minha mala, na lancheira, coloquei os óculos de sol, apaguei as luzes, fechei a porta do escritório, desci as escadas, abri a porta que dá para a recepção e tive de tirar os óculos de sol porque já era noite.

Teste n.º 2 às vertigens: Superado com sucesso




terça-feira, 28 de outubro de 2014

Cair é uma merda

Quando sofremos uma queda aparatosa há uns segundos em que percebemos que vamos cair, passam muito rápido, porque batemos no chão imediatamente, não dá para fazer uma retrospectiva de nada, não dá para preparar uma defesa para a queda, não há melhor maneira de cair, mal percebemos que já fomos, já estamos a sentir o impacto do nosso corpo no chão. Depois ficamos ali um bocado sem conseguir perceber se nos magoamos ou não, sem conseguir perceber como é que caímos, o nosso cérebro demora mais uns segundos até voltar ao antes da queda. Já me aconteceu algumas vezes, felizmente poucas e felizmente nunca me magoei a sério, restou-me levantar, sacudir o pó, verificar se a bicicleta estava em tão boas condições como eu e seguir caminho.
Ver um dos nossos a cair é uma merda ainda maior. A impotência de ver cada pormenor da queda e não conseguir fazer nada, sentir o impacto deles no chão, tentar descobrir se se magoaram a sério ou não. Ao contrário das vezes em que fui eu a cair, desta vez não me apeteceu seguir caminho, foi a primeira vez em que fiz somente o trajecto necessário e me vim embora o mais depressa possível sem ficar triste por isso, foi a primeira vez em que simplesmente não me apeteceu pedalar mais.
Mimos, o meu Moreno precisa de muitos mimos, e de andar na minha roda, pelo menos assim se voltar a cair eu não o vejo. 

Teste n.º 1 às vertigens: Superado com sucesso




quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Loira, o que vês do teu selim?


O Outono.

O Pedro

Ainda me lembro da expressão que ele fez quando me viu entrar de saltos altos e bicicleta às costas pela primeira vez na loja, depois de eu lhe dizer que a bicicleta precisava de uma revisão porque eu ia com eles a Viana. "Vais onde?" O Pedro fez comigo as minhas primeiras grandes viagens, ficou sempre comigo quando eu precisei. O Pedro ofereceu-me o primeiro jersey do Caminho de Santiago e prometeu-me que o meu primeiro Caminho não passava daquele ano, cumpriu. O Pedro levou-me para o cimo da montanha e ensinou-me as melhores técnicas para descer, ficamos lá algumas, muitas horas, foi o Pedro que me ensinou a confiança. O Pedro ofereceu-me a roda dele muitas vezes e quando eu a aceitei chegou lá em baixo, levou as mãos à cabeça e perguntou se eu era maluca. O Pedro disse-me uma vez que eu não precisava de beber porque já tinha os sintomas, eu acho que são parecidos com os dele. O Pedro não é perfeito, como eu também não sou, como ninguém é, por isso já nos irritamos muitas vezes, aliás, eu já me irritei com o Pedro, porque para ele é tudo sem stress. Com as mudanças na vida do Pedro acabamos por nos afastar um pouco e pedalar um em cada montanha, mas no início deste ano, quando eu já não pedalava há 3 meses o Pedro percebeu, ligou-me e obrigou-me a ir morrer com ele nas subidas das montanhas de Vale de Cambra. Agradeço-lhe por isso, como por tudo. Esta semana já retribuí um pouquinho daquilo que o Pedro fez por mim, percebi que a vida dele não estava fácil e que ele já não pedalava há muito tempo, liguei-lhe, convidei-o para um café, chamei-lhe calaceiro e lá o convenci a vir connosco no domingo e a fazer um esforço para não deixar de ter tempo para aquilo que gosta. Agora só espero que morra nas subidas, como me aconteceu a mim, só para ele ver o que já me fez sofrer.

Digo eu...

Por cada porta que se fecha abrem-se um milhão de possibilidades.

Caminho mais leve estes dias

Deixei de carregar comigo durante o dia o livro que ando a ler. Desisti de o transportar comigo na mala, com esperança de 5 minutos livres. Ainda tenho a sensação de que me falta algo quando saio de casa e não trago o livro comigo, mas não posso, um livro de 900 páginas ou não cabe nas minhas malas, ou para caber teria que abdicar de toda a tralha que lá trago, incluindo a carteira e o telemóvel. Caminho mais leve estes dias, mas sinto-me mais vazia, quando me sento no café e tenho de esperar pela minha amiga 2 ou 3 minutos, quando chego mais cedo e tenho de esperar por algo ou alguém, ou quando me sobram cinco minutinhos que seriam tão bem aproveitados se trouxesse o meu livro comigo. Na maior parte dos dias carrego o livro e nem lhe toco, não tenho tempo, nem 1 minuto livre, mas andar com ele dá-me uma sensação de conforto. Caminho mais leve estes dias, mas falta-me algo.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Rochy, diz olá às pessoas.

No sábado pedalamos todo o dia, depois do almoço o cão que estava no exterior do restaurante e que nos encantou logo à chegada veio connosco, acompanhou-nos sempre, nas subidas, nas descidas, na lama, na água, nas pedras e no meio do mato. Corria enquanto pedalávamos e voltava para trás sempre que algum de nós se atrasava, para ter a certeza de que estava tudo bem. Acompanhou-nos mais de 25 km, inicialmente pensamos que voltava para trás rapidamente, depois começamos a tentar mandá-lo para casa, não adiantou nada, não nos largou. Eu já estava a ficar em pânico, não podia levar o cão para o apartamento, não sabia se um cão tão livre aceitaria que o metesse no carro para o levar ao dono, não o podia deixar sozinho, até que me lembrei que tinha o número de telemóvel do dono do restaurante e do cão. O Sr. Carlos deu uma gargalhada pela minha preocupação, explicou-me que o Rochy é mesmo assim, faz grandes viagens e volta sempre a casa, é livre para se aventurar e fiel para regressar. Eu apaixonei-me pelo Rochy, não é o meu cão mas é um cão que pretendo visitar algumas vezes. É o melhor amigo do Homem, dos malucos pelos pedais e das Loiras.


 Pessoas, digam olá ao Rochy, o melhor canito de sempre.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O problema das mulheres

Se estamos magras é porque estamos anorécticas, pobres de nós que sempre sofremos da cabeça com esta mania das dietas. Se estamos gordas é porque não temos cuidado nenhum, comemos tudo o que nos apetece, somos umas lontras. Se fazemos exercício é porque não temos mais nada para fazer, se fossemos passar a ferro é que éramos umas grandes mulheres. Se não fazemos exercício é porque somos umas preguiçosas, que só queremos estar alapadas em frente à televisão a comer bolachas. Se somos magras e vamos correr devíamos era ir comer um hambúrguer. Se somos gordas e vamos comer um hambúrguer somos umas nojentas, devíamos era comer duas folhas de alface. Se deixamos o cabelo crescer não tem jeito nenhum, está horrível e sem corte. Se cortamos o cabelo, que horror, onde estávamos com a cabeça para fazer uma coisa destas? Se vestimos bem queremos chamar a atenção. Se vestimos mal somos umas desleixadas. Se temos um namorado bonito, pobre homem, deve ter um grande defeito para estar connosco. Se temos um namorado feio é porque somos horríveis e não conseguimos arranjar melhor. Se elogiamos é porque queremos alguma coisa. Se criticamos é porque somos fracas, mesquinhas e invejosas. Se estamos caladas é porque somos umas sonsas. Se falamos demais é porque estamos com falta de sexo. Se gostamos de estar em casa somos umas anti-sociais. Se gostamos de sair e de nos divertir somos umas galdérias. Se passamos muito tempo sem um homem pobres de nós, devemos estar com uma grande depressão. Se pelo contrário acabamos uma relação e começamos outra somos umas vadias.

O problema das mulheres não é ser gorda, nem sem magra, não é ser alta ou baixa, bonita ou feia. O problema das mulheres é que são sempre criticadas. O problema das mulheres é que têm sempre dedos apontados. O problema das mulheres é que essas críticas e esses dedos apontados chegam sempre de outras mulheres. O problema das mulheres é que não gostam umas das outras. O problema das mulheres é que não nasceram para se unir, nasceram para competir. O problema das mulheres são as outras mulheres. E sim, há excepções, são as que as mulheres consideram que têm a puta da mania que são melhores que as outras.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Há quem adore cozinhas brancas


Eu adoro bicicletas.

Alguém conseguirá adivinhar qual é o livro?

Ler um bom livro pode ser arrebatador. Se por um lado queremos ler tudo de uma só vez, queremos absorver cada frase, cada parágrafo, cada ideia, por outro queremos ter o nosso tempo para saborear cada palavra, cada personagem, cada conjugação de sentimentos. Se por um lado temos o resto da vida para terminar o livro, por outro não podemos esperar para lhe dedicar horas e horas. As personagens, os locais, a história, os momentos, tudo nos absorve a imaginação, somos só nós e o livro. Mas depois acaba e fica um vazio, ficam as saudades das personagens, fica um sentimento de perda, a sensação de que nunca mais vamos encontrar um livro que nos preencha desta maneira. Ontem senti-me assim, depois daquela última frase que me deixou um sabor agridoce na alma. "Toda a vida", assim terminou o livro, já tenho saudades.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Post sem fins lucrativos

Quando estava a pagar os cafés vi uns ovos Kinder com mensagens muito fofinhas, decidi trazer um para dar ao Moreno mais logo. Acontece que estou aqui a tentar concentrar-me no trabalho e só penso no ovo, ali, sozinho, tão lindo, tão fofinho e tão apetitoso. Acontece que já me apeteceu comê-lo um milhão de vezes e ele ainda só está ali há uma hora. Acontece que não sei se lhe vou conseguir resistir.


Acham que o Moreno fica muito chateado se eu "descascar" o ovo, se eu comer o ovo e se eu deixar o invólucro do ovo intacto para lhe dar mais logo? Afinal, eu só comprei o ovo por causa da mensagem fofinha e a mensagem fofinha será entregue. Afinal, não dizem que o que importa é a intenção?

Bikipédia - 5

Loira, vou fazer uma maratona, ou um trail, ou uma caminhada, ou qualquer actividade ao ar livre que me vai demorar muitas horas, talvez o dia inteiro. O que devo levar para comer além de fruta, que nas actividades mais radicais rapidamente fica em mau estado e de barritas nutricionais desportivas que comidas em excesso não me fazem muito bem? 

Eu costumo levar frutos secos, marmelada e/ou ovos cozidos.

Socorro... façam-nas parar.

Esta semana a minha mãe mandou marmelada, a mãe do Moreno mandou marmelada e a mãe que arranjei ao pedal mandou marmelada. Se isto continua tenho de mudar de casa, por um lado já não tenho onde guardar tanta marmelada, por outro vou precisar de portas mais largas para poder deslocar-me depois de estar obesa de tanto comer marmelada. Espero sinceramente que parem com isto, ou então, que mandem queijo, só mesmo para acompanhar a marmelada. 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Era uma casa muito engraçada... tinha a parede toda enfeitada...

Lá em casa já tinha uma árvore de magnólias e um destes dias fiz também uma plantação de margaridas. Por acaso ninguém me sabe dizer onde posso arranjar papel autocolante com cannabis? Estou a pensar rentabilizar a decoração. 

Como escandalizar as light com apenas 3 palavras

No ginásio, perguntaram-me o que tinha lanchado depois de eu ter comentado que fiquei enjoada no final da aula de resistência física. Respondi-lhes que "comi uma manga" e deram gritinhos histéricos, ficaram escandalizadas, chocadas, incomodadas. Como é possível? Uma manga? Então eu não sei que a manga é a fruta que mais engorda? Como é que eu fui capaz? Foi o pânico, o horror, a tragédia. Aparentemente comer uma manga é um dos novos 7 pecados mortais. Antes da próxima ida ao ginásio sou bem capaz de comer uma bola-de-berlim, só mesmo para ver se alguma das light desmaia. Estou convencida que se lhes dissesse o que normalmente como no final de uma pedalada faziam um Abaixo-assinado para me expulsar do ginásio.

Para quem não tiver nada para fazer durante 7 minutos


Como diz o Zé: Este gajo pedala quase tão bem como eu.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Loira dá dicas de beleza

Fazer uma descida de bicicleta a mais de 40 km por hora quando está a chover. Doloroso, mas muito mais eficaz que uma esfoliação. 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Conclusão do dia: Ler envelhece

Tinha uma consulta médica marcada e levei o meu livro para o tempo de espera, cheguei mais cedo 5 minutos e comecei a ler, passado pouco tempo reparei que as outras pessoas se estavam a queixar do horário, que as consultas estavam a ficar muito atrasadas, eu pensei que possivelmente já seria a hora da minha consulta, olhei para o relógio e tinham passado 45 minutos. 45 minutos que só me souberam a 5. Ler envelhece, claro que envelhece, com as horas a voar desta forma vou ficar velhinha rapidamente.

Loira decide partilhar aquilo que verdadeiramente gosta de ver na televisão

Quem nunca viu Where the Trail Ends não sabe o que é um louco.


Eu adoro-os de paixão.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A importância do nome

Quando comecei este blog não percebia nada disto, dos blogs. Se tivesse feito pesquisas de mercado, se tivesse ponderado o assunto, se tivesse demorado mais de cinco minutos entre o pensamento de ter um blog e lhe dar existência nunca lhe chamaria Também quero um Blog. Deveria ter-lhe dado um nome marcante, sonante, um nome que despertasse as atenções de um público alvo. Se tivesse lido meia dúzia de blogs que fosse antes de fazer nascer o meu, saberia que o nome tem de dizer algo considerável sobre nós. Se tivesse passeado pela blogosfera antes de iniciar esta caminhada saberia a importância dos nomes, saberia a atenção que o nome pode despertar nos feeds, saberia as centenas de visitas e de visualizações de páginas que o nome nos pode oferecer. Imagino-me agora com um: A nacho picante com mais molho de queijo; Misturo tudo em gelado (excepto azeitonas); A pedalar se vai ao longe; Leituras a 50 páginas por hora; e agradeço ser impulsiva o suficiente para inventar um blog em cinco minutos, só porque sim, porque Também quero um blog.

Sabem...

Aquelas pessoas que fazem um sorriso insosso quando vos vêem e se dizem muito felizes por finalmente vos encontrarem, por mero acaso? Aquelas pessoas que só se lembram do vosso aniversário se vocês tiverem a data no Facebook? Aquelas pessoas que só telefonam quando precisam de alguma coisa da vossa parte? Aquelas pessoas que só vos convidam quando precisam de companhia ou de boleia? Aquelas pessoas que se mostram muito preocupadas porque souberam de algo que vos aconteceu, por terceiros? Aquelas pessoas que se mostram muito interessadas na conversa quando o tema são elas? Aquelas pessoas que adoram receber mas nunca têm nada para dar (obviamente que não falo em coisas palpáveis)? Aquelas pessoas que apesar de tudo isso, e mais algumas coisas, vos chamam de amigas ou de amigos?


Digam-lhes que não. Deixem de lhes fazer fretes. Não se deixem usar. Amizade não é isto, amizade é outra coisa. Outra coisa completamente diferente.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Não deixem que o amor pelos animais vos roube o discernimento

Aqui há uns tempos estava a pedalar na pista quando me deparei com uma bicicleta no chão a ocupar praticamente as duas faixas, quando olhei melhor vi uma mulher de joelhos com um cão. Parei e encostei a minha bicicleta enquanto lhe perguntava se precisava de ajuda e ela me dizia em pânico, quase a chorar, que também estava a pedalar e viu ali o cão, estava muito preocupada porque não sabia como o podia ajudar, uma vez que não o podia transportar. Eu disse-lhe para ter calma, que ajudava, pedi licença para pegar na bicicleta dela e a tirar do meio da pista. Aquele local é uma subida no sentido em que eu ia e é uma descida no sentido contrário, logo depois de uma curva, eu passo ali numa BTT entre 35 a 40 km por hora o que quer dizer que uma bicicleta de estrada passa ali a pelo menos 50 km por hora, senão mais, com a curva não se tem visibilidade e do lado direito há uma ravina. A mulher começou aos berros, a dizer-me que eu só estava preocupada com a forma como ela tinha deixado a bicicleta, eu tentei acalmá-la e explicar-lhe que podíamos colocar em risco outras pessoas, tentei dizer que arranjava forma de transportar o cão e que caso não conseguíssemos ia a alguma casa perto pedir ajuda, o cão tinha uma pata magoada, nada mais, a mulher gritava cada vez mais e começou mesmo a insultar-me, como se eu tivesse parado, desviado a bicicleta e me tivesse ido embora sem sequer lhe falar. Conseguiu enervar-me de tal forma que me fui embora e deixei-a aos berros no meio da pista. Não fiquei de consciência tranquila por isso minutos depois voltei para trás, ela já lá não estava, nem o cão. Eu, arrependi-me profundamente de não lhe ter dado um murro no focinho, dela, obviamente, e de não ter trazido o cão comigo, nem um animal merecia estar com uma pessoa daquelas.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Loira, a medrosa

Não consigo descrever o que é uma descida de BTT. Dizer que somos nós em cima de uma bicicleta a uma velocidade significativa a passar pedras, lama, buracos, areia, paus, regos, vegetação e tudo mais o que possa aparecer pela frente é pouco, é muito pouco. Fazer uma descida de BTT pode ser uma autêntica loucura e sempre foram as descidas mais difíceis e mais técnicas que mais me apaixonaram, largar-me lá de cima sem pára-quedas capaz de suportar o peso da minha loucura. Ainda assim, com toda esta paixão pela imprudência de sentir o impacto da liberdade a bater-me no corpo há dias em que não consigo fazer nada, travo a fundo, bloqueio, desmonto ao mais pequeno obstáculo, tudo para mim é um perigo, tudo para mim é um não consigo, é um vou cair, tudo para mim é insegurança. E nesses dias, nos dias em que sou uma cobarde penso em tudo o que já fiz, em tudo o que já desci e sinto-me ainda pior, por parar naquele momento perante uma insignificância mental, porque até a Loira, a destemida, a corajosa, a louca, às vezes acorda medrosa, prova de que aquilo de que somos ou não capazes está sempre na nossa cabeça. 

Estou muito invejosa.

A aventura deles terminou. Eu também queria muito fazer algo assim.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Comparações

Leio como quem come melancia doce e fresca numa tarde de calor abrasador.

Olá, eu sou a Loira.

Adoro pedalar. Faço BTT. Vou a maratonas e passeios. Sou namorada. Sou filha. Sou amiga. Tenho uma casa para cuidar. Cozinho, o básico e mal, muito mal. Limpo o pó. Aspiro. Faço bolos. Vou às compras, detesto ir às compras. Vou ao ginásio. Às vezes vou correr, mas não gosto. Às vezes vou nadar e adoro. Vou almoçar quase todos os dias com os meus pais mas ainda assim telefono todas as noites. Leio, adoro ler, leio muitos livros, não gosto de revistas. Escrevo num blog. Namoro. Adoro filmes e séries mas sobra-me pouco tempo. Tirando os filmes e, às vezes as séries, não gosto de ver televisão, não vejo televisão. Adoro música mas detesto barulho. Vou todos os dias tomar café com a minha amiga. Adoro cinema mas não gosto de pipocas, nem do barulho que as outras pessoas fazem a comê-las. Sou prima. Sou tia. Já não sou neta. Sou irmã. Sou filha única. Estendo a roupa. Cuido de mim. Cuido dos outros. Adoro caminhar. Trabalho, contabilidade, administração, gestão. Trabalho por uma, trabalho por duas. Durmo pouco. Às vezes como pouco. Às vezes como muito. Vivo num T2 com 100 metros quadrados onde cabem todas as nossas coisas, muitos livros, duas bicicletas e muito amor. Um dia caberá muito mais. Às vezes leio blogs, às vezes falta-me tempo. Faço a depilação, manicure e pedicure. Não gosto de ir à cabeleireira. Adoro conduzir. Gosto de escrever. Gosto de praia mas não gosto de fazer praia. Queria um cão. Quando era adolescente escrevia poemas e desenhava, um dia deitei tudo ao lixo e deixei-me disso. Adoro fotografias mas detesto que me tirem fotografias. Sou vaidosa. Não saio sem me maquilhar, a não ser que vá para o monte. Adoro o monte, por lá sinto-me muito bem. Tenho sempre uma piada na algibeira. Levanto-me todos os dias mais cedo meia hora do que o necessário para poder tomar o pequeno-almoço em câmara lenta. Passo a roupa a ferro. Trabalho com números mas gosto mais de letras. Adoro gomas. Adoro gelados. Sou mais de salgados do que de doces. Sou mais de frio do que de calor. Sou mulher. O post já vai longo, parece muito mas é pouco, há mais, há muito mais, há sempre mais.

Fui acusada anonimamente de ter um péssimo gosto no que toca à escolha dos sapatos

Obviamente que uma acusação destas feita a uma pessoa que sai de casa todos os dias com a solitária expectativa de estar fashion é grave, é muito grave. Fiquei arrasada, destroçada, devastada, arruinada (pronto, já chega) e insegura. Tive de tomar decisões. Tive de inovar, reinventar, aparecer. Mas resultou, é óbvio que resultou, hoje todos me olham com admiração, hoje viram o rosto só para me ver passar, hoje olham uma, duas, três vezes para mim, hoje tenho a certeza que escolhi o par ideal para o meu outfit. Hoje, tenho a certeza que a minha escolha merece a aprovação blogo divina.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Palmier... Palmier... Também sou super fashion...






Ou então, quando tenho dúvidas trago sempre os dois.

Os outros todos andaram o Verão inteiro a perguntar onde raio estava o Verão.

Eu, agora mesmo, pergunto, onde está o Outono? Onde estão os casacos e os sapatos fechados ou as botas? Onde estão os lenços e os vestidos com meias? Onde está o cheiro a terra molhada e as manhãs e finais de tarde com frio? Onde está o chá quente e a manta no sofá enquanto leio um livro? Onde estão as folhas coloridas que cobrem os trilhos? Onde estão os bolos quentes a sair do forno? 


Outono, se estás a ler isto fica a saber que te adoro, podes aparecer à vontade, ou outros que se lixem, vamos ser felizes juntos. 

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O que eu quero mesmo saber é: Quem? Quem é que me paga o prejuízo?

Quando publico posts e eles só aparecem nos feeds horas (muitas horas) mais tarde. Quem, meus senhores?

Uma vez salvei um passarinho

Ao ler a Susana lembrei-me de uma história da minha infância, uma vez salvei um passarinho. Há muito tempo atrás já tinha contado essa história aqui no blog, mas isso agora não importa nada, afinal, uma vez salvei um passarinho. Isto deve dar direito a pelo menos 2000 visitas por isso não posso deixar escapar a oportunidade, salvar um passarinho é algo digno para se contar num blog de sucesso. 


Quando era ainda uma miúda e caminhava sozinha até à escola vi no chão um passarinho, estava vivo mas não se mexia e eu peguei-lhe e tomei conta dele. Faltei às aulas e fui comprar um bolo e uma garrafa de água, sentei-me num muro com o passarinho numa mão e as migalhas na outra, dei-lhe de comer e de beber e acreditem ou não o passarinho ficou mais forte. Tanto que já tentava bater as asas para voar, eu achei que o local não era o melhor para ele, havia carros e pessoas e o passarinho poderia não conseguir voar, fui à procura de um sítio melhor para o libertar. Encontrei um jardim, achei que ali o passarinho poderia ser feliz. Coloquei o passarinho no chão e ele levantou voo e voltou a pousar, quando se preparava para levantar voo novamente chegou um gato e comeu-o, mesmo à minha frente. Não queiram saber o que chorei naquele dia e nos seguintes. Afinal, não salvei um passarinho.

Setembro / 2014