quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Nunca mais vou esquecer aqueles dois

Quando partimos para fazer O Caminho acompanharam-nos no último comboio um casal de brasileiros. Chegados a Saint-Jean-Pied-du-Port colocávamos os últimos alforges nas bicicletas quando eles vieram falar connosco, muito admirados porque éramos 4 e levávamos tão pouca bagagem. Quando os olhamos nem queríamos acreditar, para além do excesso de peso que tinham cada um deles transportava mais coisas que nós os quatro juntos, tinham alforges à frente, atrás,  no quadro da bicicleta, mochila e tudo o mais o que possam imaginar. Eles acharam que nós trazíamos pouquíssimas coisas, nós achamos que eles traziam demasiadas coisas, mas ela logo tratou de nos dizer que tinham tirado 1 mês para fazer O Caminho, que caminhar estava fora de questão e por isso escolheram a bicicleta, que vinha para pedalar mas também para se divertir, que trazia vestidinhos de noite, sandálias, secador de cabelo, que queria andar sempre bonita (com sotaque brasileiro foi melhor ainda ouvi-la). Nós desejamos um Bom Caminho e partimos a rir e a pensar quanto tempo demorariam eles a fazer O Caminho. À noite voltamos a cruzar-nos com eles, nós de chinelos, calções que nos dariam para todas as noites durante todo O Caminho e um polar, único na bagagem também, ela de saltos, vestido decotado, acessórios, maquilhada e linda. 

Eles partiram na manhã seguinte para O Caminho, nós ficamos por lá ainda 1 dia, queríamos conhecer melhor aquela zona dos Pirenéus. No dia seguinte fomos pedalar por lá e entre os outros locais fomos a Roscevalles pela estrada, passaríamos por lá no dia seguinte mas vindos do Caminho, voltamos a Saint-Jean e começamos o nosso caminho, conforme planeado, 1 dia depois. Chegamos o Roscevalles por volta das 2:00 H, os trilhos para subir os Pirenéus não eram nada fáceis mas chegados lá já conhecíamos o albergue, a catedral, o restaurante, só queríamos um carimbo na caderneta e comer qualquer coisa para partir até Zubiri, seria lá o destino do dia 1. Quando fomos carimbar a caderneta encontramos o tal casal brasileiro a separar roupas, ela quando nos viu lançou um sonoro "tou despachando tudo pr'a casa", depois de falarmos um pouco ficamos a saber que tinham vindo pela estrada e mesmo assim demoram 2 dias para lá chegar. Nós desejamos novamente um Bom Caminho e partimos, nunca mais os vimos mas pensamos neles várias vezes durante O nosso Caminho, não sei se chegaram a Santiago de Compostela, não sei o que O Caminho lhes mostrou, não sei quanto tempo andaram por aquele chão de que tanto gosto, mas tenho a certeza de que aprenderam a viver somente com o que é essencial. 

3 comentários:

  1. Ai filha comecei a andar de bicicleta...tenho pensado tanto em ti...admiro-teeeeee que só eu!!

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  2. As pessoas para quem é muito complicado descobrir o que é essencial :)
    Quando fui em agosto levei o minimo dos minimos, ia quase de mochila vazia :)

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