segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Loira, no mundo da lua

Dizem-me várias vezes que já vi aquele filme, mas se vi não me lembro, não me lembro da história, nem dos locais, não me recordo da banda sonora e não sei como acaba, fico atenta, o filme interessa-me e a cada cena tenho a impressão de que estou a ter uma recordação, que sim, que nada daquilo é novo para mim. Ainda assim não sei o que vem a seguir, surpreendendo-me várias vezes com o final. O oposto acontece quando o filme me marca profundamente, nesses casos sei cada cena como se a tivesse vivido eu mesma ainda há uns dias atrás, sei cada sentimento, sei cada frase, está tudo escondido num recanto profundo da minha alma.
Esqueço-me também frequentemente dos nomes das músicas, dos cantores e das bandas, quando quero mencionar algo sou incapaz, apesar de saber cada compasso, cada timbre, de me lembrar do sentimento de ouvir aquela música em determinado momento, de sentir o cheiro que ia no ar e o arrepio que me ia na pele. Também me acontece do nome de uma música não me sair da cabeça, são as que marcaram a minha vida para sempre.
O mesmo se passa em relação aos livros, leio sem parar e absorvo cada página e cada livro com intensidade para, por vezes, na semana a seguir não me conseguir lembrar do nome do autor ou da cor da capa. Se quero falar sobre os livros que li há dois meses tenho de ir pesquisar nas minhas anotações, se quero falar de um livro que li o ano passado tenho de lhe pegar e ler a contracapa. Alguns nunca esqueço, é certo, aqueles que me ficaram na pele e na alma. Os outros não tenho capacidade de memorizar, ainda que cada página me seja muito importante e que sejam os livros que me fazem mudar constantemente a minha visão da vida e do mundo.
Acontece-me até de me esquecer de coisas que se passaram na minha vida, ou não lhes dou importância e às vezes é preciso que alguém me relembre de algo que vivi e que lhe contei naquela altura ou vivo no presente e nos sonhos e do passado retiro somente o que sou hoje, sem pensar muito do que me levou a chegar aqui.

Lido desta forma pode até parecer grave esta minha incapacidade de decorar factos, datas, acontecimentos, nomes e títulos, mas a mim parece-me só a minha forma de viver no mundo da lua e de tantas vezes sentir mais do que aquilo que penso. Parece-me até que frequentemente me encontro sozinha e inspirada num mundo só meu. 

4 comentários:

  1. Julgo que consigo te compreender.

    Em relação aos livros é igual, nos filmes vou por associações "fez o outro filme, aquele, entra na série X, está casado com a fulana" e só assim lá vou.

    É o teu mundo, é a tua vida e não deves preocupar com isso, se bem que a mim me chateia para burro, aquilo que leio e não conseguir memorizar nem metade aí isso chateia...

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    1. Sim, a parte dos livros também é a pior para mim.

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  2. se lhe serve de conforto eu também sou assim, relativo aos filmes que vejo e livros que leio. o mesmo acontece aos locais que visito. ás vezes até pergunto à minha cara metade "já estivemos aqui?"
    gosto de coisas que ninguém gosta, sinto o que ninguém sente, enfim...ás vezes desespero quem me acompanha.
    (desculpo-me muitas vezes e penso que todos os artistas são assim, mas não. Existem pessoas na minha profissão ditas "normais").
    Força "nós" somos únicas. :) O que conta é nós nos aceitarmos como somos. o resto...que se lixe. :):)
    vw

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    1. Obrigada... obrigada... obrigada... não estou sozinha no mundo :)

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