sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Lido muito mal com as desistências

A primeira vez que fui andar de bicicleta para a montanha, ainda eu não sabia o que era uma bicicleta e não fazia a mais pequena ideia da transformação que este objecto ia fazer na minha vida, estava a chover. Fiz aqueles primeiros quilómetros debaixo de chuva e sujei-me muito na lama. O meu primeiro Caminho também foi marcado por uma tempestade inesquecível e por condições que só verdadeiros malucos se atreveriam a enfrentar. É impossível descrever e contabilizar os dias de chuva que já vivi a pedalar, os treinos, os passeios, as maratonas, as viagens que já fiz molhada, a lama que já tive de lavar da minha bicicleta, dos meus sapatos de encaixe, da minha roupa e do meu corpo. É impossível explicar a sensação do "vou mesmo assim", do "é para fazer", do "já estava marcado", do "sim, os planos são para manter", do "que se foda". É impossível dizer onde se vai buscar a coragem para sair de casa num dia de intempérie para a enfrentar de corpo e alma. Talvez seja o meu excesso de confiança, o meu excesso de perseverança, o meu excesso de loucura, mas acho sempre que nada me pode parar e que tudo é possível, sou sempre capaz de tudo, talvez seja tudo isso que me faz lidar muito mal com as desistências e olhar sem esperança para as pessoas que se amedrontam e desistem à primeira previsão de dificuldades. Eu? Desistir é impossível. E das raras vezes em que aconteceu precisei de mais coragem para desistir do que aquela que me seria necessária para seguir em frente. Por mim, vou mesmo assim, é para fazer, já estava marcado, os planos são para manter e que se foda, eu vou. 

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