segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Descer a quanto obrigas

Haverá quem ache difícil descer a montanha, ler os trilhos técnicos, saltar pedras, enfrentar encostas, controlar a bicicleta em terra seca ou na lama, passar regos, buracos e calhaus, saber o momento exacto para travar antes de ir de focinho ao chão na gravilha ou no lajeado. Haverá quem ache difícil curtir as descidas numa bicicleta todo o terreno. Já eu acho difícil descer o alcatrão, usar da melhor forma a minha bicicleta de estrada e curtir as descidas com um pneu fininho. Por muito que me tentem explicar todas as teorias, todas as normas de segurança, todas as formas de aprender a curvar e a controlar a bicicleta em terreno liso e aparentemente sem dificuldade, eu continuo a achar que descer em estrada é a pior coisa do mundo. Passo a vida a imaginar um carro a não parar num sinal de stop, a cortar a curva seguinte, a abrir uma porta num estacionamento, a fazer uma ultrapassagem perigosa, passo a vida a imaginar um cão ou um gato assustado a sair da vegetação e a bater-me na roda, um buraco na estrada impossível de passar a alta velocidade, uma curva mal calculada e a perda do controle da bicicleta, passo a vida a imaginar a dor de me esbardalhar no alcatrão. Eu desço, vou descendo, devagar, devagarinho, a travar, a travar tanto que no final de cada descida me parece que ganhei uma tendinite em cada mão. Sim, já sei, um dia destes caio, mas vai ser de tanto travar. 

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