domingo, 1 de outubro de 2017

Reler-me #42

A máquina de fazer ciclistas

Não sei se já viram alguma prova de ciclismo, não sei se acompanham a modalidade ou se entre a mudança de um canal para outro já pararam por algum tempo numa reportagem sobre uma volta, uma maratona de BTT ou uma competição em pista, enfim, sobre esta gente que pedala e de que eu me pergunto sempre de que é feito. Sim, de que é feito um ciclista? Já vi quedas que nem consigo descrever, ou através de um ecrã ou pessoalmente, já vi lesões de dar medo só de olhar, já me doeu a alma só de imaginar semelhante dor e já me doeu também a mim, quando fui eu a sentir no corpo o contacto com o chão. Se viram, se pararam durante cinco minutos para olhar para esta gente, terão com toda a certeza do mundo reparado que esta gente se levanta o mais rápido possível depois de uma queda e só pensa numa coisa, em continuar, em conseguir. Falo sobre isto com conhecimento de causa, falo sobre o que sinto na pele e posso dizer que quando pedalas só te sentes um verdadeiro ciclista quando atinges a tua meta, vás em competição ou em passeio, vás fazer 100 ou 10 km, vás sozinho ou no meio da multidão, a tua meta é a tua maior vitória, é a tua felicidade. Por isso um verdadeiro ciclista só desiste do que quer que seja se não tiver outra hipótese, por isso um verdadeiro ciclista só não se levanta disposto a montar novamente a bicicleta e a continuar se isso for humanamente impossível. Só te sentes um verdadeiro ciclista quando a dor de desistir de um objectivo ultrapassa a dor de continuar, de tentar. Não sei de que é feito um ciclista, não sei qual será a máquina que os prepara para isto, só sei que me sinto uma, e se em cima da bicicleta sou uma verdadeira ciclista, não vai ser na vida que vou ser uma jogadora de futebol. 

Agosto de 2015

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